sábado, 20 de agosto de 2011

Xampu

Era pai de família. Careca, baixinho, gordo. Já devia lá ter seus 50 anos. Casado há 25. Três filhos já todos criados. Bem criados, por sinal.

A mais velha morava há pouco tempo nos EUA. A última notícia que deu pra família fora a de que iria se casar com um americano mais ilegal do que ela. O do meio era formado em Direito. Mas nunca passava nos concursos públicos. “A Internet não deixa” dizia ele quando questionado de seus sucessivos fracassos. O mais novo, repetira, pelo menos, cada série do Ensino Médio uma vez cada. Certo dia (isso aconteceu enquanto a mais velha ainda morava na casa) chegara em casa em tom sóbrio (coisa rara). Fitou o pai fixamente nos olhos e disse sério:

- Engravidei a Rafa.

A reação foi até melhor do que ele esperava: o pai teve um infarto, a mãe uma síncope, o do meio soltou um belo de um palavrão e a mais velha deixou o copo de água cair no chão.

Mas era alarme falso.

Ia me esquecendo de falar da mãe. Boa mulher, boa mãe. Daquelas que adoram juntar a família na mesa num domingão. Dona-de-casa. Vivia pelos filhos e pelo marido.

Como vê, era uma família normal, que apesar de tantos problemas, eram felizes e unidos. Mas uma bomba caiu em cima daquela casa certa noite. O pai chegou no horário de costume.

Trabalhava como revendedor de uma empresa de cosméticos. Beijou a mulher e pediu para que a família reunisse na sala. Silêncio. Então, o senhor careca e baixo se pronunciou:

- Estou mudando pro Tibet.

A mãe e os filhos se entreolharam. E olharam para o pai. Ele sério, em pose quase militar. Começaram a rir:

- Que história é essa, Alfredo?

- Não posso viver mais neste mundo!

A família se preocupou. Ele era brincalhão, sim. Mas péssimo mentiroso. Não havia aquele sorrisinho no canto da boca que sempre aparecia quando ele fingia. Estava sério, impávido, compenetrado.

- Por que isso, Alfredo? – desesperou-se a mulher.

Ele contou que naquele dia foi o lançamento da nova linha de produtos da empresa. E ele ficou encarregado de vender os xampus.

- Xampus, Aurora! Xampus! – ele berrava – Eu não tenho sequer um fio de cabelo, Aurora! Como posso vender xampus?!

Viraria monge. Estava decidido. Lá ele poderia ser careca sem constrangimento. A família poderia ir com ele. Mas que ficassem carecas também!



CADÊ MEU XAMPU????

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